Secretaria dos Órgãos Colegiados Superiores

NOTA DO CONSELHO UNIVERSITÁRIO DA UFES SOBRE A TRAGÉDIA DA SAMARCO

O Conselho Universitário da Universidade Federal do Espírito Santo, em sua primeira reunião após o ocorrido, amparado em informações e análises multidisciplinares (ainda em andamento) sobre a tragédia ecológica e humanitária provocada pelo rompimento da barragem de rejeitos de mineração da empresa Samarco (propriedade da Vale e da BHP Billiton), em Mariana (MG), vem a público manifestar o posicionamento da UFES como parte da sociedade civil e instituição de ensino superior.

Primeiramente, expressamos nossa total solidariedade às vítimas da catástrofe, que vão desde os moradores do distrito de Bento Rodrigues (MG) e localidades próximas, mortos ou desabrigados, até os habitantes da região costeira do Espírito Santo, passando pelas comunidades indígenas, população ribeirinha, lavradores e pescadores de todo o Vale do Rio Doce. Sabemos que, além das casas nas proximidades da barragem, a tragédia destruiu permanentemente lavouras e pastos, provocou a morte de animais aquáticos que garantiam a vida e a alimentação de pescadores, e deixou centenas de milhares de pessoas sem abastecimento de água, caracterizando-se como uma calamidade humanitária.

Também manifestamos nossa profunda preocupação com os danos ainda incalculáveis ao meio ambiente. Embora ainda seja impossível apresentar todos os dados técnicos e análises científicas precisas do impacto ambiental, pode-se afirmar que o desastre é de proporções alarmantes. O despejamento de 55 milhões de m3 de rejeitos de mineração no Rio Doce criou um ambiente tóxico que tem causado a morte de animais e plantas, tanto no leito e nas margens do rio quanto no mar, onde o rio deságua. A despeito das dúvidas que ainda pairam sobre a interação de metais pesados e outras substâncias tóxicas provenientes desses rejeitos com o rio, solos, mar e sedimentos, é certo que as condições atuais desses ambientes têm inviabilizado a vida dos organismos que deles dependem.

Dado o alto grau de complexidade e inter-relação dos elementos que compõem o ecossistema, a destruição de suas partes tem impactos imensuráveis e imprevisíveis de curto, médio e longo prazos na totalidade. Ainda será preciso envidar maiores esforços para se calcular o prejuízo ecológico causado pelo rompimento da barragem.

Convidamos a população a refletir mais profunda e criticamente sobre a responsabilidade ecológica e social das grandes empresas e do poder público e sobre o modelo de desenvolvimento econômico que prevalece no mundo atual, relacionando-o com os constantes riscos de desastres de grandes e irreversíveis proporções, como o da usina nuclear de Fukushima, o vazamento de petróleo da British Petroleum, no Golfo do México, e este que ora atinge Minas Gerais e Espírito Santo.

Também é necessário darmos uma especial atenção aos liames estabelecidos entre as atividades econômicas das grandes empresas e o processo político no país, que se tecem por meio do financiamento privado de campanhas eleitorais e que podem tornar os poderes públicos negligentes na regulamentação dessas atividades e na punição de eventuais culpados.

Como parte da sociedade civil, compartilhamos a dor e a preocupação que acometem a população do país. Como instituição de ensino superior, disponibilizamos à sociedade e aos órgãos públicos o conjunto de nossos saberes, tanto no campo científico-natural e tecnológico quanto nas áreas humanas e sociais, para que as causas dessa tragédia sejam esclarecidas e seus efeitos, minimizados, naquilo que for possível e estiver ao nosso alcance, e para que outras catástrofes sejam evitadas.

Vitória, 26 de novembro de 2015.
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